A memória é um processo contínuo que vive de uma constante recordação. Não nos esquecemos das histórias que contamos recorrentemente, pois é essa a única maneira de as mantermos vivas. Ao longo do tempo, por cada vez que as vocalizamos, pequenos detalhes alteram-se, posteriormente consolidando-se como verdades insofismáveis do que aconteceu, num processo sem fim. O correr de água de um rio inclui processos semelhantes: a água carrega sedimentos que acabam por repousar no leito do mesmo, sendo que por vezes esses mesmos sedimentos são reconfigurados, quebrados ou mesmo destruídos pela próprio liquido em movimento. A “Epigenia da Memória” não será nada mais que esse processo constante de sedimentação e reconstrução das nossas memórias que, embora as adultere, se revela essencial para a sua subsistência, bem como para a formação do individuo e sua identidade. Será de se ter em mente também a origem dos mitos: apesar de muitas vezes irreais ou impossíveis, começaram por uma história simples, despojada de grandiosidade ou magia, transformando-se com o tempo e sua passagem de geração em geração, em epopeias ou sagas. Tal não deverá ser visto como uma desvalorização do seu conteúdo original ou fuga à verdade, mas antes como um processo necessário à sua sobrevivência, pelo que a sua mensagem original, apesar de refeita, carregará ainda parte do seu intuito primitivo.

Outros Projectos

Back to Top